​​​​​​​Relação Porto-Cidade, uma inevitabilidade. 

A sinergia porto-cidades

Hoje em dia só é possível pensar em cidades portuárias que vivam da sinergia gerada pela interação das duas partes: um porto ativo e uma cidade dinâmica. Assim, o diálogo constante e a comunicação regular entre as entidades intervenientes no processo são indispensáveis para uma sólida relação, devendo estas atuar como parceiras na gestão do território, aproveitando o que advirá da inevitável troca de experiências. 

Todas as cidades têm algo que as distingue entre si

Algumas cidades tiveram o privilégio de terem nascido a partir de um porto. Nestes casos, embora a sua génese seja o porto, as cidades foram gradualmente assistindo ao desenvolvimento e transformação do seu parceiro, nem sempre reconhecendo o seu valor enquanto motor da economia. Por outro lado, o valor económico produzido proporcionou aos portos uma "independência" que se manifestou na forma como geriram e ocuparam o seu território, por vezes alheios às dinâmicas da cidade. 

Este fenómeno, que muito contribuiu para um afastamento entre as partes, gerou também, ao longo do tempo, uma luta pelo território que ia ficando disponível, consequência de algum declínio nas atividades dos portos, designadamente o que resultou das transformações que ocorreram com a contentorização. Com esta mudança veio a reorganização das áreas portuárias bem como a redefinição de funções das áreas libertas.  

Alguns portos, a partir dos anos 80, despertaram para a necessidade de reconverter os seus waterfront greyfields, sobretudo aqueles mais próximos dos centros urbanos e sob forte pressão dos cidadãos que viram sempre cortado e seu acesso ao waterfront. Um pouco por todo o lado assistiu-se, por parte dos portos, à requalificação destas áreas, sendo generalizado e sistemático o sintoma de desconforto entre portos e municípios, estes últimos reclamavam como sendo da sua competência a reconversão e programação das mesmas. 

A leitura contínua do território 

São onze os municípios que fazem fronteira com o porto de Lisboa: Oeiras, Lisboa, Loures, Vila Franca de Xira, Benavente, Alcochete, Montijo, Moita, Barreiro, Seixal e Almada. É esta característica de realidades municipais diversas, dentro da área metropolitana de Lisboa, que confere a Lisboa e ao seu porto originalidade perante outros casos de cidades portuárias no mundo. Ora, é também neste pressuposto que tudo se torna mais complicado e ao mesmo tempo num desafio do ponto de vista das relações entre entidades que gerem o território. 

É sobre estas relações que importa refletir e estudar para facilitar a construção de um território sem nós ou ligações mal resolvidos ou interrompidos e que são verdadeiros grúmulos na necessária fluidez do tecido urbano portuário. Tal como entre países, a fronteira entre a cidade e o porto é sempre o pedaço de território mais difícil de resolver. É aqui que se verificam as maiores ruturas do contínuo que se pretende, quer seja ao nível da superfície visível (passeios, vedações, sinalização, arruamentos, etc.), quer seja ao nível das infraestruturas no subsolo. Esta leitura contínua do território também não deverá impedir que cada um cumpra as suas funções conseguindo uma saudável partilha de usos entre o que o porto oferece à cidade e vice-versa.  

O início da transformação 

Os primeiros momentos em que o porto decidiu abrir as portas à cidade foram desafiantes, apesar dessa transformação ter sido por vezes difícil e lenta. Depois de uma recusa, por parte dos cidadãos, a um primeiro plano de ordenamento da zona ribeirinha, optou-se por uma metodologia de trabalho mais pontual e meticulosa, pautada por uma operação de "cerzidura" do território. Para dar impulso a esta iniciativa de peso e reforçar a intenção da APL, foi convidado como consultor para as frentes ribeirinhas o Arq. Alcino Soutinho tendo a sua passagem pelo porto imprimido um nível de qualidade excecional e permitiu desenvolver alguns projetos para a frente ribeirinha, nomeadamente os Passeios Ribeirinhos da Junqueira, Alcântara e Cais do Sodré e as passagens pedonais superiores de ligação da cidade à frente ribeirinha, esta última em articulação com outras entidades.  

Em pouco tempo o território começou a dar sinais de uma abertura franca para o rio e os lisboetas rapidamente se apropriaram dos extensos passeios criados e dos restaurantes com esplanada que foram surgindo um pouco por todo lado.  

O primeiro desejo de quem consegue finalmente chegar ao rio é o da simples contemplação do mesmo. O segundo é o de o viver o rio e os espaços. Mas mantinha-se uma situação de difícil resolução: era possível chegar ao rio em inúmeros pontos da frente ribeirinha, mas faltava a ligação contínua em passeio, ao longo de uma extensão de vários quilómetros, de preferência sem interrupções. Essa conquista veio mais tarde quando surgiram as ligações entre os passeios marítimos e a introdução da ciclovia que foi o elemento fundamental que deu coerência a todo um percurso multifuncional.  

A relação ideal em constante construção 

O porto, esse, encaixado nas suas áreas perfeitamente demarcadas, desenvolve a sua atividade atento ao cidadão que passa e espreita com curiosidade para o seu interior para compreender a importância da sua presença enquanto motor da economia da região de Lisboa ao mesmo tempo que usufrui dos espaços que lhe são destinados. 

O porto vai estando atento às necessidades dos cidadãos e tem ativamente colaborado em apoiar as vertentes do usufruto do rio, dos jardins e das vias numa aposta sustentável de coabitação sustentável. 

34,6

Ciclovia (Km)

1 124

Árvores plantadas (pela APL)

27 678

Áreas verdes – (pela APL) (m²)